O princípio da igualdade tem que deixar de ser
apenas uma teoria filosófica. Os desafios que nós mulheres enfrentamos vêm
desde as palavras que tentam nos dissuadir:
- O que você quer na política? ( Queremos mais
direitos e voz) - Exerça apenas sua profissão ( Nós damos conta de tudo) - A
política é suja ( existem pesquisas que apontam que as mulheres são menos
suscetíveis à corrupção)
- Os ‘ políticos’ ( reforçando o tom machista como
se não existissem mulheres na política) são todos corruptos ( isso não é
verdade. Esse discurso precisa ser desconstruído. Essa é uma falácia que
espalham, um boato para evitar que pessoas idôneas tomem partido e façam as
reformas que o Brasil precisa)
E por aí vai uma sequência infinita de frases
prontas sem nenhuma reflexão que servem apenas para atender à cultura do
machismo. Nossa geração está consciente que dá conta de administrar a vida
pessoal com sucesso, a carreira profissional e ainda encontrar tempo para se
envolver e participar ativamente das discussões que afetam nossas vidas. Lugar
de mulher é onde ela quiser!
Particularmente estou influenciando as decisões
políticas e administrativas desde muito cedo. Tudo começou na escola quando
ainda era menor de idade e não me conformava com o autoritarismo. Ali mesmo, no
interior de Alagoas, começamos a construir uma escola com gestão participativa
e democrática. Meu primeiro estágio foi servindo à justiça eleitoral, ao lado
de um juiz com visão moderna de que todos precisaríamos abraçar esta causa e
vestir a camisa feminista. Sua Excelência me orientava naquela Comarca de Mata
Grande a conhecer os processos de impugnação de candidaturas com vícios
insanáveis, e apontava os desafios que as autoridades precisam assumir
pessoalmente como instrumento de transformação social e aperfeiçoamento da
democracia. Durante toda minha vida segui em frente servindo voluntariamente em
todas as eleições seguintes e hoje exerço a advocacia apaixonada pela área
eleitoral. O destaque e o grifo que aquele juiz fez no artigo quinto da
constituição federal mudou completamente a minha vida: ‘ Art. 5º : Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza’
Tenho viajado o Brasil inteiro ministrando cursos e
palestras especialmente para o público feminino. Todos os partidos que dialogo
demonstram real interesse de preparar e lançar candidatas. O número de
inscritas para este pleito está significativamente maior e vamos avançar cada
vez mais.
Mulheres apoiam outras mulheres nas disputas
internas nos partidos ou preferem votar, trabalhar e serem muitas vezes
assediadas pelos homens? Quantos casos de assédio moral e sexual temos
registrado? Quem denuncia e pune um parlamentar que mesmo denunciado e
processado por assédio ou estupro continua sendo eleito e reeleito? Quantos
casos de mulheres que se submetem a trabalhar eternamente como secretárias,
assessoras ou escravas desses homens sem receber nenhum reconhecimento,
gratidão e salário? Qual o problema cultural que faz essas mulheres aceitarem
migalhas ou se tornarem candidatas laranjas? Existem muitas perguntas sem
resposta. Até quando?
Ora, se homens e mulheres são iguais, porquê ainda
não se vê representantes mulheres como deveria? Segundo dados do IBGE, somamos
quase 7 milhões de mulheres a mais que homens no Brasil. Infelizmente nosso
país teve o pior resultado de participação feminina nos países sulamericanos na
última década. E se considerarmos as estatísticas no ranking geral de nações,
estamos em índices deploráveis.
De quem é a culpa? Mulher vota em mulher? E o que
dizer dos caras que se acham donos dos partidos? Verdadeiros coronéis que não
abrem espaço nem para discussão interna sobre a mudança que nós exigimos?
Muito além da teoria, queremos pôr em prática tudo que estudamos e
conhecemos. Nós sabemos realizar. E queremos fazer uma profunda reforma
política que dê condições reais de banir a opressão, o constrangimento, as
ameças e as frases de efeito que tentam tirar o ânimo e a vontade das mulheres
aptas a resolver os graves problemas do nosso país. E vamos precisar de todos.
Inclusive dos homens.
Decidi apoiar as mulheres de todos os partidos e ajudá-las a vencer as
barreiras impostas principalmente dentro dos partidos. E mobilizar a justiça
eleitoral brasileira para garantir a participação efetiva de toda e qualquer
mulher que tenha vocação política. É como se alistar ao Exército Brasileiro.
Não é apenas um direito. É um dever de cada uma de nós. Precisamos nos unir e
abrir alas para outras mulheres que sabem exatamente como administrar crises
financeiras ou de qualquer tipo.
Por Edmá Jucá – Advogada e consultora em políticas públicas