11/09/2017

Alagoanos atuam na informalidade e criam novos negócios para fugir do desemprego


A situação econômica do Brasil vem melhorando aos poucos, mas ainda não foi suficiente para abrir espaço no mercado de trabalho para tantos desempregados. Para sobreviver, muitas pessoas precisaram "se virar" e encontrar alternativas de ganhar dinheiro, mesmo que de maneira informal, sem registro na carteira de trabalho. Em Alagoas, onde mais de 17% das pessoas em idade produtiva estão fora do mercado, essa situação tornou-se comum. Com criatividade e muita disposição, os alagoanos "informais" têm utilizado todos os meios para fazer com que seus produtos cheguem até os consumidores. 

O aumento da informalidade foi justamente o que fez cair em 0,8 ponto percentual a taxa de desemprego no Brasil, fechando o período de maio a julho deste ano em 12,8%, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgados no final de agosto. 

Uma das pessoas que resolveram começar o próprio negócio foi Ricardo Farias, dono do Mister Fit, que é focado no ramo alimentício e está funcionando há pouco mais de um mês com a venda de quentinhas ou "Box" de refeições saudáveis, como Ricardo prefere chamar.

A ideia surgiu quando ele precisou mudar a alimentação, deixar de ingerir comidas gordurosas e passar para algo mais saudável. Desempregado, percebeu que a necessidade própria poderia se tornar um negócio e investiu em um sistema delivery de comidas saudáveis.

"Eu sempre gostei de cozinhar e as pessoas sempre me falavam para investir nisso. Como estava sem emprego, finalmente criei coragem e coloquei a ideia para frente. Mas aqui em Maceió existem diversos negócios no ramo alimentício que vendem hambúrgueres e massas, e eu precisava ser diferente para poder me destacar. Então, depois que eu precise mudar meus hábitos alimentares e passar a comer de um jeito mais saudável, encontrei o foco do meu negócio", explicou Ricardo.

Sem consultoria profissional, mas contando com o apoio e a orientação de amigos, ele diz que conseguiu chegar aos locais onde a matéria-prima poderia ser adquirida a um preço mais acessível, reduzindo assim os custos das refeições. Um mês depois de iniciar o negócio e fazendo tudo por conta própria, Ricardo fala que ?tocar? o próprio negócio implica em ter mais liberdade para fazer o que se deseja com menos pressão, mas também resulta em mais trabalho e responsabilidade. 

"Como eu não tenho funcionários, acabo exercendo mil e uma funções. Sou o dono, o gerente, o cozinheiro, faço as entregas e muito mais. Mesmo com todas essas funções, podendo até ser mais cansativo que trabalhar em alguma empresa, eu não estou mais procurando emprego com carteira assinada", frisou ele.

As refeições são montadas com a ajuda de um nutricionista, já que seus principais clientes são pessoas que geralmente estão fazendo alguma dieta. As quentinhas levam ingredientes leves e saudáveis, como batata doce, vegetais e massas integrais. Alguns desses clientes enviam suas dietas para Ricardo, que adapta as refeições para eles, fazendo "box" personalizadas que atendem às necessidades de cada cliente.

Os negócios estão a todo vapor e, em média, o novo empresário tem vendido 50 refeições por semana. Os preços variam entre R$ 10 e R$ 14, com o acréscimo da taxa de entrega. Segundo Ricardo, a renda que ele consegue com as vendas das refeições é o suficiente para conseguir se manter.

De acordo com o economista Cícero Péricles, a taxa de desemprego em Alagoas corresponde à 15,8%, sendo maior que a nacional, que é de 13%. Ele explica que a redução da taxa de desemprego, no âmbito nacional, deve-se à contratação de trabalhadores sem carteira assinada e ao aumento do número de trabalhadores que atuam por conta própria, os conhecidos "autônomos".

"O número de desempregados em Alagoas no período de junho deste ano era de 223 mil pessoas, ou seja, 17,8% da força de trabalho existente no estado. Já no ano passado, no mesmo período, o número era de 181 mil, ou seja, 13,9% de pessoas sem trabalho. A contratação sem carteira assinada e os trabalhos autônomos são fenômenos esperados em função do número alto de desempregados que aceitam trabalhar sem registro ou, como alternativa, buscam o trabalho por conta própria. Outros dois elementos são o aumento do número de empregados domésticos, que serve como ?porta de entrada? para o mercado de trabalho e o trabalho auxiliar, dentro das atividades das empresas de pequeno porte, com características familiares. É o que diz o IBGE", explicou ele.

Cícero afirmou que o problema com o desemprego é crescente e vem atingindo a população brasileira desde 2015, devido ao fato de não encontrarem alternativas de ocupação regulares no mercado formal - com carteira assinada ou contrato no serviço público. O emprego formal, seja numa empresa privada ou pública, garante a renda mensal e os direitos trabalhistas e previdenciários.

E em razão aos recentes acontecimentos na área trabalhista, muitos brasileiros estão aceitando o trabalho sem carteira assinada, assumindo a ocupação informal e temporária, para ter algum tipo de renda.

"A entrada no mundo do trabalho autônomo, por conta própria, passa a ser uma alternativa para aqueles que têm alguma profissão que pode garantir certo tipo de prestação de serviço, ou algum pouco capital, podendo dar início a uma atividade empresarial, seja como microempreendedor individual, o MEI, ou como microempresário", ressaltou Cícero.

Atualmente em Alagoas existem cerca de 156 mil microempresas formalizadas atuando no mercado estadual, sendo 76 mil microempreendedores individuais. O problema não está em começar o empreendimento ou atividade, e sim, em mantê-lo.

"Abrir uma empresa é relativamente fácil, se comparado com alguns anos atrás. Legalizar as atividades como microempreendedor individual é rápido e prático. O problema é que estamos vivendo um momento de crise nacional de muitas incertezas, ainda que nas últimas semanas o governo e a mídia venham insistindo na recuperação econômica baseada na queda da inflação, da taxa de juros e de um pouco de aumento no consumo. A entrada no mercado para quem nunca atuou como empresário, para quem nunca teve um negócio, é mais difícil, pois carece de experiência", explicou o economista.

Ainda segundo Cícero Péricles, para ter sucesso com um novo negócio, é necessário que o interessado apresente um


 produto ou serviço que tenha aceitação no mercado, que sua localização esteja perto do público consumidor; que os custos de manutenção sejam viáveis diante de sua concorrência; que exista qualidade e regularidade neste tipo de iniciativa, que sua divulgação chegue ao público consumidor e muitas outras exigências naturais de um mercado competitivo.

Integrando a lista dos desempregados em Alagoas, José Luiz dos Santos, que antes era funcionário de um condomínio residencial, passou a ganhar dinheiro aproveitando as habilidades culinárias da esposa, que sabia fazer um ótimo pãozinho. 

"Como eu estava desempregado e minha esposa sabia fazer esses pães, resolvi juntar o útil ao agradável e passei a vender eles de porta em porta. Vendo em média 30 pães por dia e pelo preço de um por R$ 3 e dois por R$ 5", explicou José Luiz, destacando que gostaria de abrir o próprio negócio, mas que a falta de capital para investir tem dificultado o processo.

Além da caminhada diária para vender os pães, José Luiz também passou a fazer "bicos" como encanador, jardineiro e pintor - dessa vez enaltecendo as próprias habilidades. "Só com as vendas do pão eu não conseguiria me manter. O que tem me ajudado muito são esses bicos. Com eles, consigo fazer um extra para arcar com as despesas de casa", afirmou. 

Fonte: Gazetaweb