02/03/2024

| PARLAMENTO LITERÁRIO | A Novíssima Poética

Por Adailton Lima

No meio literário, oscilações históricas sempre denotam um novo olhar na escrita. Nos primórdios da literatura estilos eram criados, "substituindo" o "velho", por novas motivações, influenciados pelo "agora", por guerras, pós guerras, mudanças sociais e políticas. O Trovadorismo, um dos primeiros estilos literários que conhecemos, tinha um peso religioso e lírico, que caracterizou os primeiros poetas da idade média. Mas o Humanismo surgiu como um estilo crítico ao Trovadorismo, protagonizando novas ideias em forma de poesia, valorizando a ciência, a cultura e os direitos individuais. No Brasil o Modernismo quebrou paradigmas, influenciando gerações e colocando de vez a ousadia e o despojamento na Literatura, tendo como marco a Semana da Arte Moderna, onde todos os estilos de arte e cultura foram retratados de forma inovadora e seu legado é atemporal. 

Adailton Lima

Nesse contexto, invocamos a poesia e as formas diversas que os poemas são apresentados durante anos, aos admiradores, poetas e críticos desse segmento. Na etimologia da palavra POEMA, que significa no grego, compor, criar ou/e fazer, já carrega por si só um peso simbólico importante, pois compor e criar, são aditivos da criatividade, e assim como os movimentos literários, a poesia se movimenta e se modifica através do tempo, influenciada por novas propostas e acontecimentos no mundo, sejam eles pontuais, ambientais ou literário. 

A Novíssima Poética, apresenta novas maneiras de escrita de poemas, esse texto literário, rico e diverso, sempre inovou nos seus anseios e necessidades, mas seus tercetos, quadriláteros e quintetos e etc, sempre caracterizavam a métrica, nos oferecendo um tom "conservador" na construção da escrita. O escritor e poeta Cícero Felipe, nascido na cidade de São José da Coroa, litoral de Pernambuco, formado em letras e teologia, desenvolveu um "novo olhar" poético para a escrita de poemas, batizados de Sextígono, Setígono, Octógono, Novígono e Decígono. Segundo Cícero, essas variações textuais são originais, sem a influência europeia fincada nas nossas poesias. Em um artigo publicado na revista Parlamento Sertão do mês de abril, o escritor conceitua: Sextígono, tem seis frases que se intercalam, Setígono, o primeiro verso se harmoniza com o sétimo, Octógono, oito versos, o primeiro harmoniza com o sétimo e o oitavo verso, o Novígono e o Decígono seguem com regras parecidas. No mesmo artigo, Cícero reforça a ideia de que a nova poética, não se apresenta em detrimento ao poema tradicional, mas como uma nova opção literária. 

Sextígono 

Nas desventuras do teu olhar provei

como pétalas colhidas na primavera

as flores que outrora eu te dei

sons esculpindo risonhas quimeras

como que a colher abusões

deleitavam-me aquela sensação

 

Setígono 

Divino é o amor

Bálsamo de refrigério

claridade além luz

seta que nos conduz

aos passos do salvador

ao seu grande ensino:

que nos leva ao eterno

 

Octógono

Havia naquele silêncio

Tons de dor e tristeza

mágoas e prantos nunca ditos

remorsos e pesares calados

música da alma em partida

partido reles melancolhida

inaudível sinfonia pungente

cantando sombras esqueléticas

 

Os exemplos acima reforçam o conceito de Cícero Felipe em ampliar o lirismo, com boas opções criativas, inovadoras e originais. E destaca: " Contudo, esse conjunto de novas modalidades poéticas não anulam tais ideias modernistas, nem na criação do verso, nem na criação do verso livre. O fato de trazerem a recuperação das regras, não significa que retrocedemos, outrossim, nessas novas formas poéticas é possível dialogar com estes antagônicos". 

O diálogo, a harmonização e a junção dos estilos, assegurando a semântica são característica visíveis dessa nova poética, que passeia livre na subjetividade da construção lírica, objetivando, ampliar a criatividade literária nos poemas e abrindo perspectivas para um futuro inovador no seguimento poético.