03/06/2014

Idosa de 102 anos implora para não ser despejada pela prefeitura

Moradora há 60 anos na área do futuro Polo Industrial Maria da Conceição - 102 de idade - chora copiosamente com medo de perder sua casa ameaçada de despejo pela prefeitura de Palmeira dos Índios
Moradora há 60 anos do povoado Batingas, antigo Campo de Pouso, Maria da Conceição, que tem 102 anos de idade, chorou copiosamente quando este jornalista esteve recentemente no lugar para registrar a ameaça de despejo de 72 famílias compostas por 211 pessoas que moram na área em que será construído o Polo Industrial de Palmeira dos Índios, projeto encampado pela prefeitura do município.

Assustada, tremendo fisicamente e chorando incontrolavelmente a moradora do povoado, mãe de doze filhos e dezenas de netos e bisnetos, disse não saber a quem recorrer para permanecer no lugar em que vive há mais de meio século.


“Meu filho” – enfatizou lucidamente dona Maria da Conceição – “Levantamos a nossa casa com muito suor, trabalho e sacrifício. Aqui vivemos nossas vidas com paz e amor. Agora, do dia para noite, chega a prefeitura querendo me expulsar daqui, um lugar que amo tanto e gostaria de morrer aqui”, ressalta inconformada. “Para onde vamos? Vou morrer aonde? Vou fazer mais o que em outro lugar?!”, questiona indignada.


Lúcida e com problemas naturais de sua idade centenária, Maria da Conceição – que é um arquivo vivo de parte da história de Palmeira dos Índios, fica emocionada quando alguém aborda a destruição literal de sua casa e da comunidade.


“A dor que sinto é muito grande e o buraco que vai ficar no meu coração não tem nada do mundo que o tape”, enfatiza Maria da Conceição.


Sempre quando é alertada pelos moradores do Batingas, que também estão preocupados com a ameaça de despejo por causa do futuro Polo Industrial, Maria da Conceição não consegue conter as lágrimas que surgem de seus olhos denunciando as consequências de um gravíssimo problema social, que a prefeitura de Palmeira dos Índios continua menosprezando em nome do “progresso”.


Ao tomar conhecimento do possível despejo das famílias a professora Deodônia Filizardo criticou a municipalidade por se manter irredutível quanto a saída da comunidade. “O “progresso” que não proporciona benefícios sociais, não é progresso, mas uma chaga que corrói a alma do povo”, disse Deodônia.


INJUSTIÇA SOCIAL

“A prefeitura pode perfeitamente construir o Polo Industrial sem afetar as famílias que moram no povoado Batinga há dezenas de anos”, ressalta José Maria Melo da Costa, presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Palmeira dos Índios e primeiro secretário da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Alagoas (FAEAL).


“Somos a favor do desenvolvimento industrial; defendemos o progresso de Palmeira dos Índios, mas não devemos jamais desajustar e desagregar mais de duzentas pessoas que construíram suas casas com suor e sangue. É terrivelmente injusto e dói no coração ver adultos, jovens e, sobretudo crianças desesperadas, à toa, chorando impotentes diante de um problema provocado pela insensibilidade daqueles que se autoproclamam defensores da povo”, enfatiza José Maria Melo da Costa, que defende a permanência da comunidade no povoado Batingas. “Aqui os moradores construíram famílias, trabalham honestamente e vivem solidariamente”, diz.


O vereador Agenor – que manifestou solidariedade às famílias – disse que é terminantemente contra o despejo. “Essa injustiça não deve prosseguir. A prefeitura cometerá uma loucura se expulsar do Batingas as pessoas que moram no lugar há quase setenta anos”, ressalta.


A área – composta de mais de 100 tarefas de terra – na qual estão inseridos o futuro Polo Industrial e as 72 famílias ameaçadas de despejo pertenceu até recentemente à Aeronáutica, que nunca reclamou em retomá-la. A invasão foi consentida. No entanto, a prefeitura do município insiste em transferir as 211 pessoas para outro lugar ainda não definido. Muitos moradores do povoado Batingas não querem sair do lugar em que nasceram e se criaram. Outros confessam que temem ficar “no olho da rua sem lenço e sem documento”.


PREFEITURA DERRUBA CASA DE MARIA AZEVEDO
Segundo denúncia de Maria José Azevedo de Oliveira, que morava no povoado Batingas, a prefeitura de Palmeira dos Índios mandou derrubar sua casa há três anos. Atualmente morando de favor em Belém porque ficou sem casa, Maria José disse que o casebre foi construído com muito sacrifício e economia. Ela revelou que passou até fome economizando dinheiro para terminar o sonho da casa própria.


“Carreguei nas costas muitos baldes de água ajudando o meu marido para a gente construir a casa. Ele vendeu até uma motinha que tinha para acabar a construção, que foi derrubada pela polícia a mando da prefeitura”, ressaltou Maria Azevedo revelando que nunca recebeu indenização, bolsa alimentação nem aluguel social.

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Por Geovan Benjoino
Fonte: Todo Segundo