11/07/2015

Delação premiada causa reviravolta em caso de homicídio de agricultor em Olivença

A investigação do assassinato do agricultor Aloncio Soares Vieira, morto a tiros, no dia 23 de março deste ano, no Sítio Serrinha, zona rural de Olivença, teve uma reviravolta, na última quinta-feira (8), depois da delação premiada de um dos participantes do homicídio. Réu confesso, José Abreu Alves, conhecido como “Nelinho”, apontou a esposa da vítima como mandante do crime, ao invés do advogado José Soares, que para ele não tem nenhum envolvimento com o caso.
A delação foi colhida pelo promotor Luiz Tenório, da 3º Promotoria de Justiça de Santana do Ipanema, que diante do relato e levantamentos realizados pela 2ª Seção de Inteligência do Comando do Policiamento de Área do Interior (CPAI-1), solicitou a prisão preventiva de Maria Cícera Vieira, 59, viúva de Aloncio Soares. O mandado de prisão foi expedido pelo juiz Diego de Araújo Dantas, titular da 3ª Vara santanense.
Maria Cícera foi presa em casa, na tarde desta quinta-feira (9), por uma guarnição do Pelotão de Operações Especiais (Pelopes), sob o comando do capitão Winston Santana, chefe da 2ª Seção de Inteligência do CPAI-1. A acusada foi levada para a Delegacia Regional de Polícia (2ª-DRP), onde foi autuada por homicídio qualificado e ficou reclusa a disposição da Justiça.
A delação
José Abreu Alves compareceu espontaneamente à 3ª Promotoria de Justiça, junto com um advogado que o acompanhou durante o depoimento concedido ao promotor Luiz Tenório. O mesmo começou o relato dizendo que conhecia Aloncio Vieira e Maria Cícera há cerca de 30 anos.
Conforme o delator, Maria Cícera vinha tentando matar o marido desde 2009, quando o procurou pela primeira vez para propor o assassinato. O mesmo revelou que negou a proposta da mulher por ser muito amigo da vítima, mas acabou mudando de ideia, depois que ela se ofereceu sexualmente para ele.
José Abreu, que é casado, disse que ficou mantendo relações sexuais com a acusada que em troca disso queria o assassinato do esposo. O homem relatou que ficou nessa situação até 2014, quando resolveu ajudar a mulher a cometer o crime, ficando encarregado de contratar um pistoleiro para isso.
O preço da vida de Aloncio teria sido calculado pela própria esposa, que disponibilizou a quantia no valor de R$ 5 mil reais para que José Abreu contratasse um pistoleiro. Parte do dinheiro teria sido adquirido através de um empréstimo bancário, realizado pela acusada.
José Abreu disse ainda que ficou sabendo que Francisco Carlos de Lima, conhecido como “Carlinhos Perneta”, era assassino de aluguel e que mesmo sem o conhecer pessoalmente resolveu contratá-lo para praticar o assassinato. Conforme o delator, a contratação aconteceu no Sítio Poço da Cacimba, zona rural do município, onde o pistoleiro recebeu R$ 2.500,00 em espécie e ficou de receber o restante quando realizasse o assassinato.
Para a prática do crime, que iria acontecer dias depois, “Carlinhos” teria pedido a ajuda de outro homem que foi identificado apenas como “Jaburú”. Conforme a delação, os dois pistoleiros foram até a residência de Aloncio, durante a noite, e efetuaram vários tiros na vítima que foi atingida pelo menos uma vez no rosto.
Os assassinos fugiram pensando ter matado o agricultor, mas o mesmo sobreviveu, apesar de ter perdido um dos olhos, em decorrência da gravidade de um dos disparos. José Abreu disse que durante a tentativa de homicídio estava em casa, próximo à residência da vítima, e que na ocasião pensou que o amigo tinha sido morto, mas descobriu no outro dia que o mesmo havia escapado. Ele contou que “Carlinhos Perneta” recebeu os outros R$ 2.500,00, mesmo sem ter praticado o assassinato encomendado.
Sem saber o motivo do atentado que havia sofrido, Aloncio foi junto com uma filha para o estado de São Paulo para se submeter a um tratamento médico. Maria Cícera ficou em Olivença, onde havia permanecido mantendo relações sexuais com José Abreu, na tentativa de o convencer a tentar matar o marido dela novamente.
Quase um ano depois, Aloncio retornou para casa e Maria Cícera teria voltado a cobrar do amante com quem praticava sexo dentro dos matagais da propriedade do marido que providenciasse um novo atentado, desta vez o ameaçando de morte, caso revelasse para a vítima o que estava acontecendo.
O delator relatou que Maria Cícera lhe deu R$ 2 mil em dinheiro e pediu que o mesmo vendesse sua motocicleta por R$ 3 mil para completar o valor que foi cobrado por “Carlinhos” para matar Aloncio.  José Abreu relatou que a mulher prometeu comprar outra moto para ele, depois que o marido fosse morto.
De acordo com a delação, foi feito um novo contato com o pistoleiro responsável pela primeira investida e este recebeu a quantia de R$ 2 mil como parte do pagamento pelo assassinato, deixando certo que após o crime receberia a motocicleta como a última parte.
Desta vez, “Carlinhos Perneta” teria convidado outro homem identificado como Damião da Silva Freire, conhecido como “Dão”, para assassinar o agricultor. Na manhã do dia 23 de março deste ano, por volta das 10h30, os dois confessaram que foram até a residência de Aloncio, se passando por cadastradores de um programa social.
José Abreu disse que estava no local, pois tinha sido contratado pelo amigo para realizar alguns serviços em sua propriedade. O mesmo relatou que os assassinos estavam em um carro com adesivos do programa Água Para Todos e que entregaram para Aloncio assinar alguns papéis que seriam documentos para a construção de cisternas em sua residência.
Ainda de acordo com o relato, no momento que Aloncio ficou de costas, Damião o atingiu com vários tiros de revólver calibre 38, na presença da esposa dele e os dois filhos do casal. Os assassinos fugiram e a vítima ainda teria sido socorrida com vida, mas não resistiu aos ferimentos, depois de dois dias internada.
O caso começou a ser investigado pela Polícia Civil e José Abreu foi intimado a comparecer à Delegacia Regional de Polícia (2ª-DRP), em Santana do Ipanema, onde na ocasião não revelou nada para a polícia. O mesmo foi liberado, mas fugiu depois que ficou sabendo que tinha um mandado de prisão em aberto em seu desfavor.
No dia 21 de maio deste ano, Damião e “Carlinhos” foram presos e em depoimento para a polícia terminaram confessando a autoria do assassinato de Aloncio, alegando que tinham cometido o crime a mando do advogado José Soares, 64.
Na época, o delegado regional Fábio Costa, titular da 2ª-DRP, concluiu que “Carlinhos Perneta” foi convidado pelo advogado José Soares para executar Aloncio, porque ele havia o chamado de “advogado porta de cadeia”. Ainda de acordo com o delegado, “Dão” teria sido convidado por “Carlinhos” e José Abreu seria o financiador do crime.
Com o novo desfecho do caso e a prisão de Maria Cícera, que nega a acusação, o advogado poderá ser inocentado judicialmente. “Carlinhos Perneta” e “Dão” vão continuar presos e José Abreu deverá ser beneficiado com a delação premiada.
Segundo o promotor de justiça Luiz Tenório, o delator se disse arrependido de ter participado do assassinato do amigo e que o mínimo que pode fazer para reparar o mal praticado é assumir a responsabilidade pelos atos.
Ainda de acordo com Tenório, José Abreu assegurou que vai se apresentar para o juiz da comarca local, de quem espera a revogação da prisão preventiva decretada contra ele para que possa responder ao processo em liberdade, já que vem colaborando com a Justiça e se compromete em comparecer a todos.
Fonte: Minuto Sertão