Antes mesmo da publicação da reportagem, dois dias após a visita ao local, um grupo de trabalho da prefeitura de Mata Grande esteve no local realizando trabalhos.
Não é de hoje que denúncias sobre
irregularidades em matadouros públicos tomam as manchetes da imprensa
por todo o Brasil. Em Alagoas, o exemplo mais recente foi flagrado na
cidade de Mata Grande, localizada a quase 300 km de Maceió. Lá,
moradores da zona rural já não sabem mais a quem recorrer para
solucionar os problemas causados pelo abatedouro de animais.
Na semana passada, a redação do Alagoas na Net recebeu algumas imagens que mostravam uma grande quantidade de sangue espalhada em uma das estradas vicinais
do município, próximo ao matadouro. As cenas foram gravadas por um
cinegrafista amador e, mesmo com a pouca qualidade, era visível notar o
rastro de dejetos que tomavam conta de parte da estrada. Veja o vídeo
abaixo:
Após se dirigir até o local onde foi
filmado o flagrante, nossa reportagem notou que já havia sido feito o
trabalho de recolhimento do material jogado, entretanto a ação não
conseguiu eliminar o odor e
alguns rastros do registrado. Ao ouvir alguns moradores também pudemos
constatar a veracidade das informações, inicialmente passadas.
Valdete Nunes dos Santos é moradora do Sítio Almeida há cerca de cinco anos. A dona de casa
cuida de seus dois filhos enquanto o marido trabalha na lavoura.
Segundo a sertaneja, suas preocupações com o matadouro já duram quatro
anos, isso porque desde esse período que o abatedouro, que fica
localizado a poucos metros de sua residência, começou a afetar a sua
vida e de seus familiares.
Depois de encher, os dejetos escorriam da fossa pela estrada.
De acordo com Valdete, toda semana, por diversos dias, os dejetos que saem do abatedouro são jogados na estrada
que dá acesso a porta de sua casa. Além do mau cheiro provocado pelos
dejetos. a moradora prejudicada falou que tem uma grande preocupação com
os filhos, pois tem que transitar nessas estradas para ter acesso a
escola.
“Um dos meus filhos já está até
desnutrido, pois não consegue comer com esse mau cheiro intenso em nossa
casa. Tem dias que nem podemos lavar a roupa, pois se botar pra secar
aqui é a mesma coisa que não ter lavado”, contou a dona de casa.
A moradora continua e diz que já
procurou várias autoridades na cidade. “Já fui no rádio, já gravei até
um vídeo falando da situação, mas ainda continua a mesma coisa”, disse
ela. Em sua defesa, a conselheira tutelar Maria do Carmo, conhecida por
Carminha, também tentou contribuir para a solução do problema, que já afetava diretamente seus filhos.
“Nós tentamos contato com o secretário
de Agricultura do município, mas ele nos deu uma desculpa e disse que
isso dependia de algumas obras. Até agora não vimos solução”, relatou a
conselheira.
Em situação parecida também se encontra a
aposentada e dona de uma pizzaria na cidade. A dona Juvina Maria da
Silva, de 63 anos, mora na zona urbana de Mata Grande, mas possui uma
propriedade que fica quase ao lado do matadouro público.
Ela conta que não consegue mais passar um dia de lazer em sua propriedade, pois o abatedouro deixou a situação insustentável.
Com ações ainda mais drásticas, a
comerciante conta que já registrou toda a situação em foto e vídeo e
levou até o Instituto de Meio Ambiente (IMA), na cidade de Maceió. Na
época, segundo ela conta, a única informação que recebeu foi a de que o
matadouro não teria autorização para funcionar.
Solução veio mais rápida desta vez
Antes mesmo de buscar por respostas do infeliz problema, o Alagoas na Net
acabou recebendo informações de internautas, de que nesta segunda-feira
(20), dois dias após a visita da equipe de reportagem, um grupo de
trabalho da prefeitura de Mata Grande esteve pela manhã realizando
trabalhos no local.
A informação foi confirmada através do
perfil no Facebook da Prefeitura. Na informe o secretário de Obras,
Cledson Inácio, reconheceu o problema, mas tentou explicar a situação.
“O problema se propagou após os municípios de Inhapi e Canapi passarem a matar os animais em Mata Grande, com isso a estrutura não suportou, e o líquido que deveria ficar retido nas caixas coletoras transbordava na estrada”, disse o secretário através da rede social.
“O problema se propagou após os municípios de Inhapi e Canapi passarem a matar os animais em Mata Grande, com isso a estrutura não suportou, e o líquido que deveria ficar retido nas caixas coletoras transbordava na estrada”, disse o secretário através da rede social.
Ainda segundo a nota, Cledson continua:
“Novos bueiros foram colocados na estrada e as caixas coletoras foram
limpas. A estrutura do matadouro foi construída apenas para atender Mata
Grande, mas estamos cedendo a estrutura para Inhapi e Canapi que
tiveram os matadouros interditados pela Vigilância Sanitária. Quando há
uma grande movimentação na matança dos animais a caixa coletora não
suporta e transborda, mas iremos ficar atentos para que o problema não
volte acontecer”.
Ainda
pela manhã desta segunda-feira (20) a prefeitura de Mata Grande
divulgou as ações na localidade do matadouro (Foto: Reprodução /
Facebook)
Apesar do problema “aparentemente resolvido”, o site Alagoas na Net
decidiu publicar a denúncia na integra, com fotos e depoimentos dos
moradores, em respeito aos mesmos e com a intenção de que a mensagem e
revolta em relação aos problemas daquela cidade sejam amplamente
divulgados.
Por Lucas Malta / Alagoas na Net
Foto: Lucas Malta / Alagoas na Net