Desnecessário dizer o quanto a tecnologia mudou nossa vida de maneira
drástica na última década, decorrente do barateamento e popularização
dos computadores e, principalmente, dos telefones celulares.
Para
você ter uma ideia, a população mundial hoje é estimada em sete bilhões
de pessoas, sendo que 6,9 bilhões são proprietários de uma “linha
móvel”. Nesse sentido, os celulares estão presentes em locais do planeta
onde, muitas vezes, nem a água potável ou o saneamento básico ainda
estão
No Brasil, por exemplo, são registrados 276 milhões de
linhas de celulares (ANATEL) para uma população de 201 milhões de
habitantes (IBGE).
Obviamente que esse convívio estreito com a
tecnologia móvel criou uma série de efeitos no cotidiano das pessoas. Os
positivos, já conhecemos muito bem, mas os negativos são ainda muito
pouco revelados
Alguns pesquisadores dizem (mas, na verdade,
nem precisaria) que o celular atual se tornou um verdadeiro portal
pessoal que oferece praticamente tudo que necessitamos (música,
fotografia, mensagens, redes sociais etc.), absorvendo parte importante
de nosso interesse e atenção. Tanto é verdade que basta uma rápida
olhada para ver o que ocorre em parte expressiva das pessoas que
transitam nos metrôs, shoppings, cinemas, restaurantes, teatros, praias
ou aeroportos. Tais ambientes são ideais para que se possa observar a
relação estreita ou, se você preferir, de descontrole ou excesso que
foi criado com a tecnologia da comunicação.
Muito tenho lido a
respeito dessas consequências e gostaria aqui de dividi-las com você,
pois algumas são efetivamente polêmicas.
Quer saber?…
Vamos
lá: Embora ainda sem uma classificação oficial da medicina, a
“nomofobia” (medo de ficar sem o celular) é uma das denominações mais
frequentes apontadas pela literatura ao descrever episódios de ansiedade
e desequilíbrio emocional das pessoas ao serem separadas de seu
telefone móvel. Alguns dos sintomas incluem: (a) uma incapacidade de
desligar o telefone, (b) verificar de maneira obsessiva chamadas não
atendidas, e-mails e mensagens de aplicativos (como whatsApp, Instagram,
por exemplo), (c) ficar continuadamente preocupado com a duração da
bateria, (d) mostrar-se incomodado de ir a lugares onde o telefone
celular não funciona corretamente ou sentir-se mal quando o telefone
estiver sem sinal. (2)
Andy Kemshall, cofundador da SecurEnvoy,
disse, a respeito dessa classificação, que: “O primeiro estudo em
‘nomophobia’, realizado há quatro anos, revelou que 53 por cento das
pessoas sofriam com a condição e, agora, o estudo revela que apenas no
Reino Unido, essa marca subiu para 66 por cento e não mostrando sinais
de diminuição”.
Caso você ainda não saiba, em uma semana normal,
uma pesquisa descobriu que o usuário médio verifica seu telefone
aproximadamente 1.500 vezes por semana, ou seja, usa seu gadget durante 3
horas e 16 minutos por dia – ou o equivalente a quase um dia inteiro por semana. Quase 4 em cada 10 usuários admitiu
sentir-se perdido sem seu celular. Muitos também confessaram usar seu
telefone sem perceber que estão fazendo e, dois terços disseram entrar e
navegar no Facebook sem pensar.
Portanto, do ponto de vista
da saúde mental, sabemos hoje que muitos dos efeitos observados são
semelhantes aos vícios de álcool, drogas e ao jogo patológico.
Uma
questão, entretanto, que vem ocupando um espaço importante nas
publicações internacionais, diz respeito ao seguinte questionamento: as
radiações dos celulares fariam mal à saúde?…
Um estudo divulgado em 2011 pelo Journal of the American Medical Association
(JAMA) estimulou o debate ainda mais quando se investigou o papel que
os telefones celulares oferecem na atividade cerebral. Embora o
relatório não tenha sido conclusivo a respeito dos possíveis efeitos,
especula-se que exista alguma consequência negativa sim para a saúde.
(6)
Embora essa questão permaneça ainda sob investigação, o periódico Journal of the American Academy of Pediatrics
já havia confirmado que as crianças são especialmente sensíveis a todos
os campos electromagnéticos, uma vez que o sistema nervoso dos pequenos
são ainda muito frágeis, além do fato de que seus ossos e crânio são
mais facilmente penetráveis pelas ondas.
A esse respeito, o
oncologista sueco Lennart Hardel afirma que crianças e adolescentes são
cinco vezes mais propensos a ter um tipo particular de câncer no cérebro
em função da radiação emitida por celulares. Conhecido como glioma – um
tumor cerebral que, embora os fatores de risco para o desenvolvimento
ainda não sejam bem conhecidos -, o único fator de risco ambiental claro
é a exposição à radiação. Dessa forma, o oncologista sugere que os
telefones celulares não deveriam ser usados de maneira excessiva antes
dos 20 anos de idade.
E não é apenas o oncologista que afirma
isso, mas recomendações aos pais a respeito dos campos magnéticos
aparecem em países como França, Rússia, Bélgica, Austrália, Índia,
Canadá, dentre outros. Na Inglaterra, por exemplo, um relatório
divulgado pelo Comitê do Instituto Nacional de Proteção Radiológica do
Reino Unido (NRPB), um órgão consultivo do governo, exigiu a adoção de
uma “abordagem preventiva'' para o uso de celulares por crianças. O
material reconhece que não há nenhuma evidência de que a radiação de
celular seja prejudicial, mas adverte que a possibilidade também não
pode ser descartada.
Na França, a proibição fez parte de um
pacote legislativo chamado Compromisso Nacional para o Meio Ambiente,
aprovado pelo parlamento francês em julho 2010 e exige que todos os
celulares sejam vendidos com um fone de ouvido (para evitar o contato
direto com a radiação), bem como proíbe anúncios de celulares que sejam
destinadas a crianças e adolescentes menores de 14 anos. Além disso,
proíbe o marketing e a venda de telefones feitos especificamente para as
crianças com idade inferior a 6 anos.
Pesquisadores do
Instituto Nacional de Saúde (EUA) descobriram que menos de uma hora de
uso do celular pode acelerar a atividade cerebral na área mais próxima à
antena do telefone. E, concluem: “O estudo é importante porque
documenta que o cérebro humano é sensível à radiação eletromagnética que
é emitida por telefones celulares,'' disse o Dr. Volkow, pesquisador.
Sabe-se que os celulares funcionam no espectro
eletromagnético que emitem radiação de micro-ondas a partir de suas
antenas, a maioria das quais estão agora incorporadas aos seus
telefones. Embora em menor intensidade que as radiações emitidas por um
forno, afirma-se que a preocupação não seja a da intensidade da energia,
mas o sinal pulsante que impactaria o organismo humano.
Na investigação publicada no periódico Environmental Health Perspectives,
foi analisado o efeito das ondas eletromagnéticas emitidas por
celulares em ratos de laboratório. Quer saber a respeito da conclusão?
“Altamente significativa” para a lesão neuronal no córtex, hipocampo, e
gânglios basais nos cérebros de ratos expostos.
(12) Dicas de utilização
Evite
contato direto do seu corpo com o telefone celular, computador e outros
eletrônicos (a maioria dos fabricantes, inclusive, sugere manter sempre
alguns centímetros entre você e seu aparelho). Procure carregar seus
equipamentos em sua mala, bolsa ou qualquer outro lugar que mantenha uma
distância mínima de você.Prefira sempre usar fones de ouvido ou modalidade viva-voz (mas não se esqueça de manter o telefone longe de sua barriga, caso seja mulher e esteja grávida).
Se puder, prefira enviar mensagens de texto em vez de fazer ligações.
Não durma com seu telefone sob o travesseiro ou perto de você na mesa de cabeceira.
Se o seu filho for usar um telefone celular ou tablet, mude para o modo avião, pois é mais seguro.
Quando possível, limite o tempo de uso de seu telefone celular (2 minutos no máximo). Prefira o telefone fixo para chamadas de longa duração.
Se você não pode usar a função viva-voz, considere usar um fone de ouvido.
Evite fazer chamadas em carros, elevadores, metros e ônibus. Qualquer material que contenha metal a sua volta como o carro ou elevador, por exemplo, fará com que as ondas aumentem a intensidade.
Não use seu telefone celular quando o sinal for fraco ou quando você estiver viajando a velocidades mais altas em um carro ou trem. Isso automaticamente aumenta o poder máximo como tentativas automáticas do telefone celular para se conectar a uma nova antena de retransmissão.
Conclusão
Enfim, ainda que muitas pesquisas estejam em andamento e o debate ainda seja inconclusivo, penso ser importante, dentro do possível, diminuir sua exposição e de seus filhos à radiação. (13,14)
Vamos nos recordar que a indústria do tabaco levou nada menos do que 150 anos para ter estampado em seus maços os avisos dos riscos do consumo, portanto, vamos ficar atentos.
Nossa saúde e a de nossos filhos agradecerão.
Blog: Dr. Cristiano Nabuco