Por Adailton Lima
No meio literário, oscilações
históricas sempre denotam um novo olhar na escrita. Nos primórdios da
literatura estilos eram criados, "substituindo" o "velho",
por novas motivações, influenciados pelo "agora", por guerras, pós
guerras, mudanças sociais e políticas. O Trovadorismo, um dos primeiros estilos
literários que conhecemos, tinha um peso religioso e lírico, que caracterizou
os primeiros poetas da idade média. Mas o Humanismo surgiu como um estilo
crítico ao Trovadorismo, protagonizando novas ideias em forma de poesia,
valorizando a ciência, a cultura e os direitos individuais. No Brasil o
Modernismo quebrou paradigmas, influenciando gerações e colocando de vez a
ousadia e o despojamento na Literatura, tendo como marco a Semana da Arte
Moderna, onde todos os estilos de arte e cultura foram retratados de forma
inovadora e seu legado é atemporal.
Adailton Lima
Nesse contexto, invocamos a
poesia e as formas diversas que os poemas são apresentados durante anos, aos
admiradores, poetas e críticos desse segmento. Na etimologia da palavra POEMA,
que significa no grego, compor, criar ou/e fazer, já carrega por si só um peso
simbólico importante, pois compor e criar, são aditivos da criatividade, e
assim como os movimentos literários, a poesia se movimenta e se modifica
através do tempo, influenciada por novas propostas e acontecimentos no mundo,
sejam eles pontuais, ambientais ou literário.
A Novíssima Poética, apresenta
novas maneiras de escrita de poemas, esse texto literário, rico e diverso,
sempre inovou nos seus anseios e necessidades, mas seus tercetos, quadriláteros
e quintetos e etc, sempre caracterizavam a métrica, nos oferecendo um tom
"conservador" na construção da escrita. O escritor e poeta Cícero
Felipe, nascido na cidade de São José da Coroa, litoral de Pernambuco, formado
em letras e teologia, desenvolveu um "novo olhar" poético para a
escrita de poemas, batizados de Sextígono, Setígono, Octógono, Novígono e
Decígono. Segundo Cícero, essas variações textuais são originais, sem a
influência europeia fincada nas nossas poesias. Em um artigo publicado na
revista Parlamento Sertão do mês de abril, o escritor conceitua: Sextígono, tem
seis frases que se intercalam, Setígono, o primeiro verso se harmoniza com o sétimo,
Octógono, oito versos, o primeiro harmoniza com o sétimo e o oitavo verso, o
Novígono e o Decígono seguem com regras parecidas. No mesmo artigo, Cícero
reforça a ideia de que a nova poética, não se apresenta em detrimento ao poema
tradicional, mas como uma nova opção literária.
Sextígono
Nas desventuras do teu olhar
provei
como pétalas colhidas na
primavera
as flores que outrora eu te
dei
sons esculpindo risonhas
quimeras
como que a colher abusões
deleitavam-me aquela sensação
Setígono
Divino é o amor
Bálsamo de refrigério
claridade além luz
seta que nos conduz
aos passos do salvador
ao seu grande ensino:
que nos leva ao eterno
Octógono
Havia naquele silêncio
Tons de dor e tristeza
mágoas e prantos nunca ditos
remorsos e pesares calados
música da alma em partida
partido reles melancolhida
inaudível sinfonia pungente
cantando sombras esqueléticas
Os exemplos acima reforçam o
conceito de Cícero Felipe em ampliar o lirismo, com boas opções criativas,
inovadoras e originais. E destaca: " Contudo, esse conjunto de novas
modalidades poéticas não anulam tais ideias modernistas, nem na criação do
verso, nem na criação do verso livre. O fato de trazerem a recuperação das
regras, não significa que retrocedemos, outrossim, nessas novas formas poéticas
é possível dialogar com estes antagônicos".
O diálogo, a harmonização e a
junção dos estilos, assegurando a semântica são característica visíveis dessa
nova poética, que passeia livre na subjetividade da construção lírica,
objetivando, ampliar a criatividade literária nos poemas e abrindo perspectivas
para um futuro inovador no seguimento poético.