22/08/2013

Santana: Criança morre após cirurgia de apêndice, mas laudo diz que causa da morte foi dengue hemorrágica

Foto: Alagoas na NetHCRM Foto: Alagoas na Net

Uma criança de apenas 5 anos de idade acabou falecendo após um procedimento cirúrgico, realizado devido a uma possível apendicite. Entretanto, após a família receber o laudo contendo o motivo da morte, descobriu que o óbito havia se dado por causa de uma Dengue Hemorrágica.

O caso aconteceu na cidade de Santana do Ipanema, distante 236 km da capital Maceió. A vítima se tratava do garoto Davyd Pereira da Silva, que faleceu na manhã da última terça-feira (20), no Hospital Regional Clodolfo Rodrigues de Melo (HRCRM).

Ainda confusos e revoltados com a inesperada situação, parentes da criança, conversaram com a reportagem, e narraram todos os acontecimentos que antecederam a morte do menor.
O relato, emocionado e angustiante, mostra que a luta pela vida, deu início uma semana antes, quando por diversas vezes a mãe levou o menino com vários sintomas e bastante debilitado para a unidade hospitalar da cidade sertaneja.

Idas e vindas
De acordo com o tio do menor, o cabo da Polícia Militar, Renildo Raimundo Pereira, a criança teria dado entrada no HRCRM por pelo menos três vezes.

“No dia 14, quarta-feira da semana passada a mãe do menor foi ao hospital, lá medicaram a criança e o enviaram de volta pra casa”, afirmou Renildo, à nossa reportagem. Ainda com informação do tio da vítima, Davyd teria voltado a sentir dores e teve que retornar ao hospital, e novamente foi dito que o caso se tratava de uma simples virose.

Nessa segunda ida à unidade hospitalar, a família conta que o garoto foi atendido pelo médico pediatra, identificado por Cícero. Este profissional examinou a criança e falou de uma suspeita de dengue hemorrágica, mas que para ter uma certeza precisava de exame.

Cícero teria deixado Davyd em observação, tomando soro, para colher material para exame, porém, quando a medicação acabou, outra médica foi até a mãe e disse que ele seria liberado, pois já apresentava um quadro de melhora.

A terceira ida da criança ao HRCRM aconteceu alguns dias depois, quando o mesmo não apresentou nenhuma melhora, e teve que ser internado pois estava vomitando e tendo dores abdominais, nas pernas, além de febre alta.

Piora e cirurgia
Passado alguns dias internado, o garoto continuou a piorar, e segundo a família, na segunda-feira (19), um dia antes da sua morte, já era nítido seu estado debilitado. Desesperada, a mãe de Davyd acabou marcando uma nova consulta com outra médica e depois de esperar na fila, seu filho acabou novamente tendo outra crise e começou a vomitar sangue.

A mãe da criança ainda contou que outro médico, desta vez identificado por Anderson, pediu apenas para que fosse feita uma ultrassonografia. Após o resultado, já ao lado de outros médicos, a mãe acabou sendo informada que seu filho deveria passar por uma intervenção cirúrgica, pois foi detectado uma apendicite.

No final da noite de segunda-feira, a cirurgia foi realizada, e a mãe foi informada do sucesso do procedimento e que só deveria agora aguardar melhoras do filho.
Ultimas e longas horas

Ao ver seu filho após a cirurgia, a mãe ainda ficou preocupada, pois notou que ele estava muito pálido. “Ele estava suando frio e respirando com dificuldade, por isso chamei uma das enfermeiras, mas elas me informaram que esse quadro era normal, por conta da anestesia”, disse a genitora.

Insistentemente, a mãe solicitou que elas fossem em busca do médico responsável, mas acabou que o dia amanheceu e nenhum médico apareceu.

“Cheguei no hospital e minha sobrinha estava desesperada, pois seu filho estava respirando com dificuldades e até aquele momento não tinha sido atendido por nenhum médico”, relatou Renildo, que havia chegado por volta das 6h30, da terça-feira (21).

Tentando tranquilizar a mãe de Davyd, Renildo seguiu em busca do diretor-geral do Hospital, Marcos Calderon.

Por volta das 9h, a mãe acabou sendo atendida por um médico, identificado por Marcos. O cirurgião ao perceber a situação crítica, chamou mais profissionais, porém a criança já estaria entrando em estado de óbito. Davyd morreu por volta das 9h20.

Início da indignação
Após perceber o tumulto e o grande movimento em torno de seu sobrinho, o policial informou que se dirigiu ao diretor do HCRM e perguntou o estado de saúde da criança. Friamente respondeu: “ele entrou, em óbito”, retratou Renildo, sobre como o diretor lhe informou sobre a morte de seu sobrinho.

“O que me admira é uma pessoa ser diretor de um hospital desse porte e ser tão despreparado como esse cidadão, pois viu todo o desespero nosso e sequer nos enviou para uma assistente social para que a notícia fosse dada de forma a doer menos para a família, que já vinha sendo maltratada”, ainda ressalta o militar.

Em seguida os familiares foram encaminhados à sala da assistente social. “Para nossa surpresa, ao chegarmos lá fomos informados da morte da criança, como se já não soubéssemos, e infelizmente de uma forma brutal”, disse o tio do garoto.

A assistente social de plantão informou à família que o corpo da criança seria encaminhado para o Serviço de Verificação de Óbito (SVO), em Maceió, a fim de que fosse periciado, para detectar a causa da morte. No momento em que os familiares chegaram ao SVO, a psicóloga plantonista, Sillma, acabou informando um detalhe, no mínimo intrigante, para a família.

“Este hospital já está acostumado a encaminhar os óbitos para cá, mas aqui não é o local indicado para este procedimento. Quem tem que dar o laudo e o atestado de óbito tem que ser o médico que realizou a cirurgia”, informou a psicóloga, segundo a família.

Após muita insistência, Silma se sensibilizou com a situação e chamou a patologista Valéria Costa. Mesmo reafirmando, o que havia dito a psicóloga, Valéria se prontificou e realizou o procedimento.

Por fim, a família acabou recebendo a notícia, que além da tristeza, trouxe a indignação, pois Davyd, que havia sido diagnosticado com uma “simples apendicite”, acabou falecendo, segundo o atestado de óbito, devido a uma dengue hemorrágica. O laudo médico deve sair em 30 dias.

Procurando respostas
Familiares da vítima acreditam que a criança pode ter sido vítima de negligência médica e afirmaram que não vão desistir enquanto não tiverem uma resposta sobre o caso.

“Iremos buscar apoio do Ministério Público, para que esse caso seja investigado à fundo e revelado o verdadeiro motivo da morte do nosso pequeno Davyd”, finalizou Renildo.

Por: Alagoas na Net