15/12/2021

[EXCLUSIVO!] Polêmica envolvendo trator de Associação Comunitária esconde o real problema que afeta a vida de dezenas de famílias remanescentes quilombolas em Mata Grande.

 

Nossa equipe de reportagem esteve na comunidade Saco dos Mirandas e pode constatar o quanto a Falta d’água tem afetado a vida da comunidade que não é abastecida nem pela operação pipa e muito menos pela prefeitura municipal.

Por: Redação\Marcio Martins 

Alvo de críticas e inúmeras denúncias desde a chegada de um trator, fruto de uma emenda parlamentar, a Associação Comunitária do Saco dos Mirandas em Mata Grande no alto sertão de Alagoas, composta por famílias remanescentes quilombolas, se viu no meio de uma grande polêmica, afinal de contas, todos se questionavam: Cadê o trator que estava aqui? A denúncia apontava o suposto uso político do trator por uma vereadora de oposição ao atual prefeito do município e seu esposo, tudo isso com a cumplicidade da presidente da associação, a Sra. Edineide, fato que inclusive, repercutiu na imprensa local. 

Buscando desvendar toda essa polêmica, primeiramente nossa equipe tratou de localizar o trator em uma comunidade vizinha, porém, pertencente ao município de Canapi, mais precisamente no povoado tupete, que também é uma comunidade de remanescentes quilombolas. O veículo foi localizado na casa do tratorista, onde permanecerá por um certo tempo e vocês irão entender por quê. 


Localizado o trator, o Jornalista Marcio Martins se dirigiu até a associação no último domingo (12) onde se reuniu com a comunidade e com a presidente a Sra. Edineide para esclarecer o porquê o veículo se encontrava fora da comunidade e ela explicou que seria devido a falta de uma garagem, informação confirmada pelos moradores presentes que se comprometeram a fazer doação e ou realizar uma rifa para arrecadação dos recursos necessários para construção da garagem. A outra polêmica sobre o veículo é que o mesmo nunca teria atendido nenhum morador da comunidade, o que foi confirmado pelos moradores, mas, que, porém, ao serem perguntados o porquê? A resposta foi que, não chegaram a precisar até o momento. Por fim, inúmeros áudios em grupos de whatsapp repercutiram a denúncia de que um ex-candidato a prefeito estaria usando o trator da associação para atender seus eleitores em serviços particulares, essa informação foi negada pelo próprio tratorista, muito embora o mesmo tenha confirmado a realização de serviços fora da comunidade. Contudo, de acordo com a presidente, o vice-presidente e a Secretária da Associação, a orientação da CODEVASF permite que o trator preste serviços a particulares fora da comunidade, desde que paguem pela hora trabalhada, que vai para o caixa da associação cobrir a manutenção do veículo e a despesa com os associados que não podem custear a hora trabalhada do trator, ainda que com um valor bem mais em conta por ser um morador da comunidade. 


Ainda segundo os áudios dos grupos de whatsapp, esse mesmo ex-candidato a prefeito do município de Mata Grande, teria colocado um aliado político alheio a comunidade para presidir a associação e assim ter o controle total do trator e dos benefícios futuros que a comunidade viesse a conseguir, houve até quem dissesse que a eleição ocorreu elegendo cabo eleitoral do político, mas, que, dias depois a votação teria sido anulada pelos próprios associados. Apesar da gravidade das denúncias, entre as mais de 60 pessoas presentes à reunião da associação com a presença do Jornalista Marcio Martins, absolutamente todas, negaram veementemente que tenha havido qualquer votação para presidência da associação e que a presidente até 2025 continuará sendo a Sra. Edineide essa sim reconduzida ao cargo pelos sindicalizados, com ata e documentação comprobatória devidamente registrada. 


Esclarecido os fatos, o que se seguiu na reunião foi um único tema gerador de um misto de sentimentos de sofrimento e revolta, a falta d’água na comunidade, foi aí que conseguimos entender, o verdadeiro problema por trás de toda polêmica envolvendo o “abençoado” trator. 

De acordo com os moradores, a comunidade nunca foi cadastrada pelo município na Operação Pipa coordenada pelo Exército Brasileiro e muito menos chegou a receber uma única gota de água transportada pelos caminhões pipas a serviço da prefeitura municipal. 

Ouvida a comunidade, fomos atrás de respostas junto aos órgãos competentes, onde primeiramente contactamos o Coordenador da Operação Pipa em Alagoas conhecido por Capitão Adelino, perguntamos o porquê a comunidade quilombola do Saco dos Mirandas em Mata Grande não vem sendo abastecida pela Operação Pipa? E a resposta que recebemos foi a seguinte: “Se a localidade apresenta condições para cadastramento na Operação Pipa e não recebe água foi porque não foi solicitada inicialmente pela Defesa Civil do município” (Capitão Adelino). 

Com a resposta do coordenador da Operação Pipa, voltamos a conversar com a presidente da Associação a Sra, Edineide para saber se a mesma chegou a encaminhar alguma documentação para a Coordenação da Defesa Civil Municipal e a mesma nos encaminhou áudios e prints de mensagens trocadas entre a presidente e o Sr. Benedito Dantas responsável pela Defesa Civil Municipal que confirmam que as informações para cadastramento da comunidade Saco dos Mirandas entre as localidades atendidas pela Operação Pipa foram encaminhadas em Abril deste ano (2021) ao Sr. Benedito Dantas, porém, como citado anteriormente pelo Capitão Adelino coordenador da Operação Pipa, a inclusão da comunidade mencionada não foi solicitada pela Defesa Civil Municipal. Procuramos então ouvir o que teria para dizer o Sr. Benedito Dantas, não só sobre a não solicitação da inclusão da comunidade Saco dos Mirandas na operação pipa, mas também o porquê o município não atende os remanescentes quilombolas com o abastecimento próprio? Recebemos então a seguinte nota como resposta: 

Informamos que há o abastecimento de carro pipa por parte do município em todo território rural, inclusive no Sitio Saco dos Mirandas. Esse abastecimento ocorre conforme demanda dos munícipes com o agendamento de abastecimento, onde devido à grande extensão territorial e quantidade de pedidos em período de estiagem, torna-se necessário um planejamento para o atendimento à população. 

Vale ressaltar que inclusive verificando no cronograma, há um abastecimento agendado para até o dia 16 do corrente mês para uma cidadã dessa localidade e outro no ponto de apoio (cisterna do grupo da comunidade), onde esse ponto de apoio fica à disposição da comunidade.

Ademais, neste próximo ano de 2022 faremos o pedido para inclusão da comunidade quilombola na Operação Carro-Pipa, onde faremos todos os esforços possíveis para que a comunidade cumpra os requisitos da aludida, sendo de grande importância a supra Operação para o Município de Mata Grande- AL, e desde já, agradecemos ao Exército Brasileiro pelos serviços prestados.

Agradeço o contato e fico a disposição à toda população matagrandense!

Benedito Dantas - Coordenador Municipal da Defesa Civil 

Como pode ser constatado na nota enviada pela Defesa Civil Municipal na pessoa do Coordenador Benedito Dantas, coincidentemente, o abastecimento de um caminhão pipa já estava agendado para amanhã, quinta-feira 16\12 na comunidade, mas, que, coincidentemente também ao protocolo de dois ofícios protocolados nesta quarta-feira (15) pela Presidente da Associação Comunitária do Saco dos Mirandas junto a Defesa Civil Municipal, o abastecimento de amanhã foi antecipado para hoje conforme comprova as foto de um caminhão pipa com a logomarca da Prefeitura Municipal que abasteceu a comunidade já na tarde desta quarta-feira (15), o que nos levar a acreditar que o abastecimento foi antecipado a publicação desta reportagem. 


Voltamos então a entrar em contato com os moradores da comunidade e fomos informados que outro caminhão pipa deve chegar amanhã a comunidade onde irá abastecer a cisterna de uma escola próxima. Agora a comunidade reivindica que o abastecimento pela prefeitura seja constante conforme a necessidade da comunidade e que o local de armazenamento da água seja em locais públicos como será com a escola e também na cisterna da associação. Não esquecendo da inclusão da comunidade na Operação Pipa a partir de 2022 conforme compromisso assumido pelo coordenador da Defesa Civil Municipal.

Ficaremos vigilantes!!!


Poço Artesiano 

Outra reclamação da comunidade, diz respeito a um poço desativado que a Prefeitura Municipal de Mata Grande tem ignorado mesmo sabendo da imensa dificuldade por água potável enfrentada pelos moradores, desassistidos completamente por todas as esferas de governo, (Federal, Estadual e Municipal). Segundo a comunidade o responsável pela reativação do poço é o atual Secretário Municipal de Agricultura André Carvalho, o qual não visualizou nossas mensagens e se visualizou de alguma maneira, deu o silêncio como resposta.