15/04/2014

Secretário Estadual é feito refém por integrantes do MST em Inhapi.

Arquivo/CadaMinuto
“No acampamento tinham mais de 300 trabalhadores, todos armados até os dentes", diz Claudionor Araújo.


Por: Cada Minuto
Crédito: Arquivo/Cada Minuto


O secretário de Estado da Articulação Social, Claudionor Araújo, foi feito refém por integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), na tarde desta terça-feira (15), quando negociava a desocupação de um canteiro de obras do Canal do Sertão, em Inhapi. Os trabalhos estão paralisados desde a manhã de ontem (14) em virtude da invasão. Além do gestor, um representante da Secretaria de Infraestrutura (Seinfra) também foi alvo dos trabalhadores, que fizeram uma série de reivindicações ao Governo do Estado.
Situado no km 74 da rodovia BR 423, o canteiro invadido pelos integrantes do MST é o local onde está instalada a Construtora OAS, uma das responsáveis pelas obras do Canal. Segundo Claudionor Araújo, o objetivo da visita ao local foi negociar a liberação do espaço, cuja ocupação interrompeu o andamento da construção. Mas, de acordo com o secretário, ele e o representante da Seinfra logo foram mantidos reféns pelos trabalhadores, que inicialmente se mostraram intolerantes a qualquer diálogo e disseram que só os liberariam caso as reivindicações fossem atendidas.  
“Conversamos com 20 representantes, mas no acampamento tinham mais de 300 trabalhadores, todos armados até os dentes, com facões, enxadas e foices”, disse o secretário à reportagem do CadaMinuto, declarando ainda a insatisfação diante da reação dos militantes.
“Ficamos presos no acampamento por mais de três horas. Durante todo o tempo, escutamos o que eles querem, mas muita coisa não tinha como atender de imediato e o que foi possível nós já garantimos. A meu ver, foi desrespeito com o governador, que mantém a gestão completamente aberta ao diálogo com o MST”, completou o gestor.
Segundo Araújo, as reivindicações são inúmeras e devem ser discutidas em reunião agendada para a próxima quarta-feira (23), em Delmiro Gouveia. De imediato, o secretário disse que o Estado vai liberar lonas e cestas básicas aos trabalhadores e, pela OAS, também foi garantido o transporte para levar as famílias de volta aos acampamentos de origem. “O canteiro será liberado ainda nesta terça-feira”, garantiu.
Participarão da reunião uma comissão dos trabalhadores, representantes da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), da Seinfra, da Codevasf, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), do Instituto de Terras de Alagoas (Iteral), e do Centro de Gerenciamento de Crises. 
Exigências dos trabalhadores
Entre as reivindicações, o secretário disse que os trabalhadores pedem que o governo adquira e doe ao MST uma área de dois mil hectares para cultivo e acampamento. Os trabalhadores rurais exigiram também perímetros irrigados que, segundo Araújo, a responsabilidade é do Governo Federal e da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).
“Não tínhamos como garantir a compra do terreno de imediato, até por questões burocráticas sobre a localização e propriedade. Sobre os perímetros, a responsabilidade não é do Governo de Alagoas e os trabalhadores têm consciência disso, mas nós iremos intermediar as negociações para viabilizar o atendimento da reivindicação”, explicou.
Outra exigência dos integrantes foi quanto às estradas de acesso aos acampamentos. Segundo relataram os trabalhadores ao secretário, as “passagens molhadas” ficam intransitáveis nos períodos chuvosos. Sobre a queixa, Araújo reconheceu que “ainda não foi feito investimento para sanar este problema, mas, a partir de agora, os pontos serão mapeados e será apresentado ao governador um projeto para adequação”.
“São mais de 16 pontos. Mapearemos e, assim que for determinado, iniciaremos o trabalho”, garantiu o secretário. 

Durante a conversa com os trabalhadores, Araújo disse que chegou a questionar a atitude de manter os gestores reféns e, como resposta, ouviu que “até então não era uma prática, mas de hoje em diante seria”. “Eles disseram que não queriam conversar e que passaríamos quantos dias fossem preciso, mas só nos liberariam quando tudo estivesse acertado. Conversamos por mais de três horas e, depois de tudo, o diálogo acabou prevalecendo. O que fizeram foi uma violência contra o governo de Alagoas”, concluiu o secretário.