Com efeito, a imanência de Baruch Espinosa fala sobre a unicidade do homem e do universo. Não postulados como seres distintos e distanciados. Mas ambos coexistindo mutuamente. Em outras palavras, seria como se afirmássemos que o universo vive no homem e, evidentemente, o homem no universo. Mas a coexistência destes vista como completude. Não havendo, assim sendo, dicotomia, separação. O universo e o homem sendo apenas um. Tal conceito de imanência foi o que levou o distinto filosofo a declarar que “Deus é tudo e tudo é Deus”. O tudo e o todo em toda parte totalizando a real dimensão da existência. Para Espinosa apenas conheceríamos a nós mesmos quando conhecêssemos a natureza em nossa volta. Ponto importante a ser destacado na filosofia de Espinosa. A natureza e Deus se fazem a mesma coisa. É nessa perspectiva que o mesmo irá corroborar de que “Deus é a própria natureza”. Ou quando em “Deus é um mecanismo imanente da natureza e do universo. Deus e natureza: dois nomes para a mesma coisa.”Ou ainda em “Se o homem tem uma ideia de Deus, Ele deve existir, e o homem tem uma ideia de Deus, portanto...” Essa ideia de Deus presente na mente do homem evidentemente está contida em seu inconsciente. Mesmo as mais antigas civilizações da terra mantiveram adorações ao divino por sobre as mais variadas formas. A ideia de Espinosa afirma essa hereditariedade, essa herança do divino presente na mente do homem. Interessante observar que em nosso inconsciente estão contidas as informações perpassadas toda a humanidade como se fosse uma espécie de reservatório psíquico. Entender que tal ideia existe é apontar para a existência desse ser, dessa força sobrenatural ou natural que é o próprio Deus, ou na visão de Espinosa o próprio Universo. Quando ao declarar que “Deus é tudo e tudo é Deus” Espinosa estabelece uma acepção panteísta da ideia de Deus e o coloca como o próprio universo. O conjunto de tudo o que existe sendo o próprio Deus. A totalidade da existência, de todos os seres, os pensantes e os não pensantes, as galáxias, os planetas, as estrelas, o cosmo como um todo é o próprio Deus em infinita expansão. Afirma Espinosa que “Da necessidade da natureza divina podem resultar coisas infinitas em número infinito de modos, isto é, tudo o que pode cair sob um intelecto divino’’. (Espinosa, Ética, Prop. XVI, p. 100). Nesta perspectiva a natureza se auto-realiza tendo fim em si mesma. Concernente a esta ideia afiançou Sócrates que seria necessário conhecer a nós mesmos para posteriormente conhecer o universo ao nosso redor. Nessa perspectiva conhecer a si mesmo é fator predominante para o conhecimento do mundo. E mais que isso: devemos entender que somos partes desse mundo, desse universo. Que ele e eu somos o mesmo. Que possuímos simbiose em nossas respectivas essências. Ainda relembrando Sócrates conhecer a si mesmo é conhecer o próprio universo, pois, para Espinosa o universo e eu estamos intimamente conectados em simbiótica coexistência e perfeita unicidade. Com preponderância a essa conexão do homem com o universo o distinto filosofo irá elucidar que “a mente humana é parte do intelecto infinito de Deus”. E, desta forma, dialoga diretamente com a teoria do ICS. Entender que nossa mente é parte de uma estrutura maior de pensamento e que todas as mentes estão conectadas a essa mente maior é um dos temas centrais defendidos pela teoria do Inconsciente coletivo superior. O ICS – inconsciente coletivo superior – determina a existência de uma camada ainda mais da mente humana que o inconsciente coletivo proposto por Carl Gustv Jung. E quando Baruch Espinosa entende que nossas mentes se fazem conectadas a um Todo existente o ICS dirá exatamente onde essa conexão e essa hereditariedade universal está alocada na mente humana. Baruch entende a ligação entre o homem e a natureza, entre o homem e Deus, entre o homem e o universo, outrossim, o ICS determina o lugar exato pelo qual tal ligação é realizada e incidida na mente humana. Sintetizando a ligação existente entre estas teorias se fará proveitoso compreender que as mesmas diagnosticam a universalidade do ser e apontam a mente como canal para a melhor compreensão dessa universalidade, dessa hereditariedade cósmica e, portanto, do nosso inconsciente coletivo superior.
Em contrapartida, a ideia central contida na teoria do cérebro relativístico consiste em colocar a mente humana como centro do universo e o cérebro como o “verdadeiro criador de tudo”. Partindo de ideias e descobertas o médico e neurocientista Miguel Nicolelis defenderá a tese de que “a mente humana funciona de maneira relativa, ou seja, seguindo a ideia de que todo movimento é relativo, a mente humana também seria dessa forma ao criar um modelo próprio de realidade, o qual é constantemente renovado com as informações que se obtém do mundo”. Tal teoria se faz denominada por Nicolelis de Teoria do Cérebro Relativístico. Em síntese, seria como se pegássemos a teoria da relatividade de Einstein e a aplicasse ao funcionamento da mente, da nossa psique. O autor então considera que o cérebro em suas infindas complexidades é gerador das criações que conhecemos e quiçá também da existência, dando margem para que possamos pensar a mente como princípio basilar e geradora da existência assim como preconizou o filósofo René Descartes quando ao declarar que “Penso, logo existo”.
Se fossemos parafrasear o pensamento cartesiano tendo como base as ideias centrais da teoria do cérebro relativístico teríamos o seguinte pensamento: “Penso, logo crio e me conecto a tudo que existe”. Os fatores de conexão existentes entre os pensamentos também é uma abordagem pela qual infere a teoria do cérebro relativístico. Para Miguel o cérebro é “o Verdadeiro Criador de Tudo é uma estória sobre as criações do cérebro humano e a posição central que ele deveria ocupar na cosmologia do universo”. Ainda nesse tocante infere Miguel (NICOLELIS, 2020:13-14) que a mente deve posicionasse ao centro do universo pelo fato de que todas as nossas manifestações artísticas, e as de todos os nossos antepassados, nada mais são do que produtos da incansável e inquisitiva mente humana, ansiosa por projetar para o mundo exterior as imagens mentais criadas nos confins do nosso cosmos neuronal interior.
Esse universo interior, entretanto, se faz constituído de “uma coleção de construções e abstrações mentais gerada pelo cérebro humano e que oferece a melhor e mais acurada descrição – pelo menos até o presente – do mundo natural existente ao nosso redor”, (NICOLELIS, Miguel. 2020: 18). Aqui outra vez o cérebro humano é colocado como o criador da realidade presenciada. Entrevista a revista Galileu Nicolelis pondera sobre a relatividade da mente ao declarar:
A teoria do cérebro relativístico segue uma tradição bem antiga, da tese de que todo o movimento é relativo. Você não se move por si só, e sim em relação a algo. Por exemplo, estou andando aqui na minha sala em relação ao movimento da Terra em torno de si mesma, em torno do Sol e assim por diante. E a mente humana, na minha concepção — e conforme os experimentos que realizei sugerem —, funciona da mesma maneira. Ela cria um modelo interno da realidade e continuamente julga, atualiza, renova esse modelo, comparando com o que ela obtém do mundo exterior.A equação relativística da mente é comparar continuamente o modelo mental do universo, do nosso corpo, das nossas relações sociais, da nossa vida com aquilo que a gente obtém pelo nosso sistema sensorial. Tudo o que intuímos, descobrimos ou criamos vem desse embate relativístico. É muito semelhante à teoria de Einstein na física, com a diferença de que ele introduziu o observador no universo, mas não entrou na cabeça do observador. A cabeça do observador não fazia diferença para ele, e para mim faz.
Como fora dito anteriormente a TCR pode ser compreendida uma vez quando a compararmos com a teoria da relatividade de Einstein. Sendo a TRC uma versão psicológica da teoria do renomado e atemporal físico. Mas se faz contundente refletir que os basilares científicos da TCR refletem com pujança a questão universal da mente humana. Uma mente que como bem pontuou o autor da referida teoria pensa, julga, atualiza, renova esse modelo idiossincrático contido em nosso inconsciente coletivo superior pela livre e relativa comparação com o mundo externo, com a realidade física existente. Ponto importante: a universalidade e a posição de centralidade que a mente, segundo a TRC, ocupa no universo é um fator determinante para avançarmos na compreensão do ICS – Inconsciente coletivo superior. Jung pondera sobre o inconsciente coletivo que este não se faz devedor das experiências pessoais do ser, mas da hereditariedade, dos elementos psíquicos que são transmitidos entre ascendentes e descendentes. Assim como é incidido como quando nos processos biológicos de hereditariedade. Temos características corpóreas que não devem nada a nossa experiência pessoal: a cor dos olhos, o formato do rosto e assim por diante. Tais características nos são perpassadas pela hereditariedade genética: fato cientifico amplamente comprovado. O mesmo, segundo Jung, ocorre com determinados elementos psíquicos e formadores da personalidade. Esse inconsciente coletivo é fruto de uma herança transgeracional. Nada deve a nossa experiência pessoal, mas nos fora perpassada pelo processo de herança psíquica, essa hereditariedade ancestral tem forte e fundamental importância na maneira como reagiremos ao mundo em nossa volta. Haverá em nosso inconsciente coletivo predisposições que se fazem averiguadas como imagens latentes e primordiais e que já se fazem existentes em nosso psiquismo, em nosso inconsciente coletivo. Esse inconsciente coletivo se prospecta como se fosse um reservatório psíquico das experiências sensoriais da humanidade.
Doravante, chegamos ao conceito de inconsciente coletivo superior. Uma camada ainda mais profunda da mente humana que o inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo versa sobre a hereditariedade ancestral e o ICS sobre a hereditariedade universal. Entender que a mente humana se faz conectada a um Todo existente como bem frisou Espinosa é avançar no entendimento de que esse Todo existente já se faz de alguma forma existente em mim, de que eu sou parte desse Todo e, por consequência, estabelece-se a imanência espinosiana. Esclareço: a imanência de Espinosa pondera um conceito de unicidade entre o homem e o cosmo. Um cosmo autoexistente e do qual o homem se faz tributário. A mente, ainda segundo Espinosa, está conectada de alguma forma a esse cosmo e participa relativisticamente de sua composição. A mente cria e recria esse cosmo, esse universo. Pondera Miguel que o cérebro é o criador de tudo. Nessa acepção teríamos uma grande teia de pensamentos sendo os verdadeiros artífices do universo. Ponto importante da ICS: compreendemos a vida e os viventes além da dimensão terrena e avançamos ao entendimento de que, de fato, seres outros na infinita dimensão do espaço se fazem existentes e igualmente pensantes. Reitero de que não é uma afirmação ufológica, mas um fato que tanto do ponto de vista científico, filosófico e teológico se faz muito provável de ser verdadeiro e a vida seja mais natural do que pensávamos anteriormente. O ICS afirma essa verdade e determina que em nossa mente há o registro cósmico dessa universalidade maior. Assim sendo nos pensaríamos como seres universais e que temos em nós mesmos a conexão com outros seres universais: uma matrix universal de pensamento. Fugimos também da delimitação espaço e tempo com a qual nos acorrentam determinadas conversões quando ao enxergar e ensinar que em todo o universo, este tão vasto, tão amplo e tão infinito, apenas nós, reles seres humanos, somos os únicos a existir e a pensar. É um ponto de vista um tanto exclusivista e de igual maneira egoística, mas que infelizmente se faz prospectado no inconsciente coletivo da humanidade. Nos pensar como seres únicos fora talvez o ponto culminante para que o egoísmo se fizesse a grande chaga da humanidade. Entender a vida numa projeção maior e como bem ponderou o psicanalista Adriano Sales “entender que somos partes de um ecossistema maior” é também compreender que esse Deus é muito mais grandioso do que o que pregam a maioria das conversões religiosas. Diz a bíblia que fomos feitos a imagem e a semelhança de Deus. Argumento mais que suficiente para compreender que Dele somos herdeiros. Ser herdeiro de Deus ou como afiançou Espinosa herdeiros do Universo é o que prega a teoria do inconsciente coletivo superior. A terceira e mais profunda camada do inconsciente humano contém e guarda os registros dessa hereditariedade divina, dessa hereditariedade universal.
Tanto Espinosa com o conceito então defendido pela sua filosofia de imanência e unicidade do homem com o cosmo quanto Miguel ao compreender as diretrizes relativísticas da mente e posicionar a mesma como centro de um cosmo auto-existente e sendo constantemente interferido e modificado pelas ações do pensamento apontam de igual maneira para a universalidade da mente e para os fatores hereditários e universais dos quais a mesma se faz tributária. Finalizando, o ICS – Inconsciente coletivo superior – apenas diagnostica o lugar onde é incidida tal hereditariedade, prospectando a grande teia de pensamento universal, compreendendo a vida na sua verdadeira e infinita expansão e, mais que isso, colocando o ser humano na perspectiva universal da qual ele já se faz tributário e atuante.
: "Baruch Spinoza (1632 - 1677)" em Só Filosofia.
Virtuous, Tecnologia da Informação, 2008-2023. Consultado em 06/06/2023 às
14:04. Disponível na Internet em http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=72
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