O
fato foi revelado hoje (4) em audiência pública na Comissão de
Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados que discutiu a
operação, a cargo do Exército, de distribuição de água a 810 municípios
nordestinos em estado de calamidade pública devido à seca, por meio de
caminhões-pipa.
Segundo
nota técnica do departamento do Ministério da Saúde apresentada durante
a audiência pública, informações da Secretaria de Saúde de Alagoas dão
conta de que “os carros-pipa estão captando água bruta e não estão
realizando nenhum tipo de tratamento, antes de disponibilizá-la para a
população, o que causa alto risco à saúde”.
De
acordo com o documento, análises da água para consumo humano
distribuída em Alagoas evidenciaram a presença de diversos tipos de
micro-organismos causadores de doença, como Escherichia coli, Shiguella,
Salmonella, Salmonella typhi, Vibrio cholerae, rotavírus, protozoários e
cianobactérias.
Informações
fornecidas pelo Comitê de Combate à Seca de Alagoas – acrescenta a nota
técnica – revelam que os carros-pipa estão abastecendo 2.234
localidades afastadas e 77 municípios, o que representa 75% do total dos
municípios de Alagoas.
Os
técnicos informam que foram pesquisados os 39 óbitos registrados nesses
locais, no período, confirmando que, “tendo em vista o cenário
relatado”, 37 foram motivados por diarreia. Entre os mortos, 52% estavam
acima de 60 anos e 38% tinham menos de 1 ano de idade.
Do
total de 50 municípios alagoanos reconhecidos pelo governo federal em
situação de emergência ou calamidade pública, 13 apresentaram pelo menos
um óbito por diarreia. A pior situação é no município de Palmeira dos
Índios, com 7.280 atendimentos de diarreia e dez óbitos.
A
situação foi classificada como “alarmante” pela representante do
Ministério da Saúde, Mariely Daniela, porque o problema vem ocorrendo
não apenas em Alagoas, mas em outros estados nordestinos que enfrentam a
seca com o uso de carros-pipa. Ela ressaltou que é preciso clorar a
água para ser consumida pela população, pois as análises de laboratório
demonstram até mesmo a contaminação por fezes.
Para
tentar impedir que a situação se agrave, a Secretaria de Saúde de
Alagoas – diz a nota técnica – tem articulado com o Exército e a Defesa
Civil estadual a desinfecção da água dos carros-pipa, em colaboração com
a Funasa, “que disponibilizou a unidade móvel de laboratório e técnicos
para a realização das análises de água”, e com a Secretaria de Recursos
Hídricos do estado. Uma equipe do Ministério da Saúde também está
realizando investigação em Palmeira dos Índios.
O
representante do Exército na audiência, coronel Neuzivaldo dos Anjos
Ferreira, responsável pela operação dos carros-pipa no Semiárido
nordestino, disse que é impossível para o Exército e os donos dos
caminhões-pipa se responsabilizarem pelo tratamento da água distribuída à
população, mas ressaltou que a finalidade da operação é abastecer de
água potável toda a região onde a seca ocorre desde 2012.
Na
operação, o Exército utiliza 5.267 carros-pipa para abastecer mais de
76 mil pontos de captação. O objetivo, segundo ele, é fornecer água
suficiente para mais de 3,6 milhões de pessoas, com 20 litros para cada
uma por dia e um total de 20 bilhões de litros por ano.
De
acordo com o deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE), autor
do requerimento de convocação da audiência pública, um relatório será
elaborado e encaminhado ao governo com pedido de providências para que a
água distribuída pelos carros-pipa a serviço do Exército seja submetida
a tratamento com cloro antes de ser entregue à população. Caso isso não
ocorra, ele disse que poderá recorrer ao Ministério Público para
determinar a adoção da medida na operação.
Fonte: Agência Brasil