21/12/2016

Índios de Inhapi resgatam história e lançam grife no Sertão de Alagoas

Beleza indígena é história, naturalidade, diversidade, simplicidade. Aspectos que têm sido deixados de lado no mundo da moda e que o povo Koiupanká, no município sertanejo de Inhapi, busca resgatar com o lançamento de uma grife com roupas estilizadas e adornos utilizados na aldeia.
A ideia de criar a grife surgiu recentemente pelos coordenadores dos Jogos Indígenas Koiupanká Damião Torres, coordenador-geral e articulador político, Francisco João, coordenador-técnico de Assuntos Culturais e Gildete Merênço, coordenadora de Arte e Comunicação, e que também é graduada em História pela Universidade Estadual de Alagoas (Uneal) e curso de Licenciatura Indígena (Prolind), além de ser coordenadora pedagógica na Escola Estadual Indígena Ancelmo Bispo de Souza, na Aldeia Roçado, no município de Inhapi.
Gildete Merenço relata que as vestimentas são produzidas em tecido cru, na cor branca. “Nosso propósito da escolha do tecido traz um sentido muito forte e simbólico para o povo Koiupanká, simbolizando a simplicidade, a forma que as mulheres da nossa aldeia apresentam nos rituais, deixando de lado as coisas o que o mundo induz”, explica.
Ela conta que, no passado, foi uma das primeiras vestimentas que cobriu a nudez das indígenas nas aldeias. “Foi um tipo de tecido como esse, simples, cobertura essa imposta pelo colonizador. As chamadas toalhas, assim dizendo, que servia para envolver as cinturas deixando expostos os seios. Com o passar do tempo, os tecidos ganharam novas formas até que as roupas, efetivamente, começaram a fazer parte da realidade de muitos povos indígenas”, lembra a professora e estilista indígena.
Os desenhos das peças foram planejados e desenhados por Gildete Merênço, tendo a contribuição do coordenador Francisco João, na pintura das peças, e supervisão-geral do coordenador Damião Torres, e a colaboração dos jovens artesãos, costureiras e bordadeiras da comunidade.
“Beleza do olhar, da pele, do sorriso, dos diversos formatos de rostos, do balançar ou não dos cabelos. Beleza é ter amor próprio, ser humilde, respeitar o próprio corpo e aceitar as mudanças que ocorrem naturalmente com o tempo”, complementa Gildete Merenço, que apresentou a grife em desfile recente na Aldeia Mãe Serra do Capela, em Palmeira dos Índios, onde estavam reunidos nove povos indígenas.
O próximo passo agora é comercializar a grife e o preço médio de cada peça do vestuário custa R$ 100 reais.
Povo Koiupanká: uma história de luta
No Sertão de Alagoas, no município de Inhapi, está fincada a história do povo Koiupanká. Descendentes do povo Pankararu, de Pernambuco, eles vieram para as terras alagoanas em busca de melhores condições de vida, por volta do ano de 1883.
Migraram do Brejo dos Padres, em Tacaratu, no interior de Pernambuco, a fim de encontrar terras mais produtivas e um lugar livre das perseguições naquela época.
A comunidade indígena Koiupanká divide-se em três aldeias: Aldeia Baixa do Galo, Aldeia Roçado e Aldeia Baixa Fresca, onde vivem 174 famílias e aproximadamente 584 pessoas.
Por SERTÃO EXPRESSO